Hoje, a casa está vazia.
Hoje, só existo eu no meu mundo.
Hoje, tenho tanto para fazer, mas sei que vou passar o dia a sonhar.
Ligo o portátil na minha cama, ponho-o nos meus joelhos, e ouço a tua voz a dizer “Isso dá cabo do teu computador”. Ignoro. Já não escrevo há bastante tempo, e sem planear, acabo por abrir o Word, na busca de inspiração. O Media Player reproduz uma selecção estranha para me acompanhar.
Amanha vou regressar às aulas, e a normalidade vai retornar. De novo presa naquele mundo de regras e horários. De novo a vegetar nas aulas, bombardeada por informação.
Tenho uma mensagem no meu telemóvel, sei que é tua. Mas deixo-a. Deixo estar, porque não quero estragar a minha ilusão de que algo mágico está á minha espera.
Passaste cá o fim-de-semana, foi divertido. Precisava dos teus abraços. Precisava tanto dos teus abraços. Envolves-me, e tudo desaparece. Fico amparada, e revitalizada.
Pregaste-me um susto enorme. Quando chegaste, a Ângela chorou tanto. Preocupo-me e a ti também. Quando finalmente escapei por segundos, estavas á minha frente. Abraçaste-me, e tinhas ar de nervosismo. Não liguei muito, porque sentia-me da mesma maneira, ver-te de novo era bom. E, de repente, tiras algo de detrás das costas. Uma caixinha azul, de joalharia. “Argghhhhh!”. Pânico invadiu o meu corpo, deixando-me a tremer. Atrevo-me a olhar para ti, e tens ar de brincadeira. Abres ou abro eu, não me lembro bem. E lá dentro, duas argolas. Dois piercings para os meus lábios. “Cabrão, reles”.
Alivio.
Brincaste depois, a descrever a situação na cozinha. Sim, tinha piada. E era mesmo isso que esperava de ti. Nem me devia ter preocupado, nunca me irias oferecer algo tão comprometedor. Mas, mesmo assim, senti aquilo.
Instinto.
E ajudaste-me a pô-los, e comentaste como me ficavam bem. É verdade, ficam. E foi muito querido da tua parte. Nem sei se te agradeci como deve ser, mas podias ver no meu olhar, se quisesses. Fica aqui também registado, um simples “obrigado”.
November 05, 2008
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